Saudações, leitores!
Hoje vou postar a primeira parte de uma estória ambientada em Azeroth. É de minha autoria e eu espero que ela possa agradar a todos. Críticas e sugestões são sempre bem vindas. Pode-se ficar meio perdido no começo, mas tudo será explicado a seu tempo. Boa leitura!
Capítulo Primeiro – Um Abrupto Despertar
Os sons dos canecos de madeira se batendo e da cantoria fizeram com que Greyval sorrisse nervosamente sob o farto bigode rubro. Ele podia ouvir vozes familiares em festa, tais que bradavam seu nome e enalteciam seus feitos. Era como se nunca tivesse saído de casa, como se nunca tivesse perdido um lar e mesmo um povo; uma identidade. No fundo, bem no fundo, sabia se tratar de apenas um sonho, e dos mais perigosos. Um sonho do qual não se deseja sair, que induz a um coma, destrói a vida e corrompe a mente. Este faz com que os fracos se entreguem a vícios, almejando voltar ao sonhar. Greyval jamais entendeu a ligação dos druidas com o Sonho Esmeralda, mas tinha certeza de que aquilo era bem diferente.
O que roubou o anão do seu devaneio foi um estampido poderoso, de deixar os ouvidos surdos com o zunido, além do vibrar da própria terra. A cabeça pesava, com os tímpanos martelando dos dois lados. Os olhos se abriram uma vez, identificando apenas blocos de cores uniformes, fechando e voltando a abrir. Aos poucos os sons ficavam nítidos, um rugido e um grito arranhado; visceral. Quando as imagens se tornaram nítidas, Greyval sentiu-se sufocado.
Uma imensa massa de músculos, coberta por uma pelagem escura, erguia-se frente à fogueira do acampamento. Sua face era marcada por uma horrenda imitação de semblante bovino. Os chifres, escuros como piche, apontavam para frente em ameaça. Os olhos avermelhados e a bocarra aberta denunciavam a sede de sangue daquela besta. Era um tauren, como Greyval jamais imaginou ser capaz de ver um. De suas imensas mãos escorria a forma quebrada e esquálida de Torben, o guia de seu grupo. Um jovem rapaz com aspirações a tornar-se batedor do exército de Ventobravo. A atenção da besta ensandecida foi atraída para um segundo vulto naquela confusão, o que deu tempo o bastante para que o paladino se erguesse e apanhasse seu malho.
O tauren arrastou um dos cascos no chão e investiu com os chifres mirados para o tórax de um dos homens que acompanhavam a expedição. Num salto rápido, o batedor conseguiu desviar da morte certa e, frustrada, a besta urrou de forma selvagem à medida que fechou um dos imensos punhos a fim de girá-lo na direção do alvo, algo que o pegou desprevenido. O guerreiro caiu desacordado. Sem tempo de ver quantos aliados ainda estavam em pé, Greyval agarrou o cabo de seu martelo e bradou para chamar a atenção do “monstro”.
- Maldito! Venha mexer com alguém do teu calibre! - e cuspiu no chão. Os pés firmes e o martelo bem preso. Os olhos cinzentos do anão fitaram os vermelhos do demônio de chifres. Este bufou e quase gargalhou.
Em nova investida, o demônio abaixou a cabeça, mas não foi o bastante. Girando o corpo para o lado, Greyval desviou do golpe e soltou a marreta de uma das mãos, fazendo um arco pendular que acertou a junta do joelho da criatura. O som animalesco de ossos se partindo rompeu com o silêncio outrora contínuo da noite. Sem perder tempo, o anão se lançou contra o tauren caído sobre a perna quebrada, mas foi recebido por uma cabeçada que lhe acertou em cheio. A terra fora tomada pelo rubro em vida; tão somente indícios da morte. O anão se conteve apenas com uma careta e uma maldição em silêncio. Estava sem sua armadura, usando apenas com o acolchoado que lhe protegia do próprio ferro, o ferimento na axila não foi profundo, mas deixou o braço fraco.
Pesando o corpo imenso, a “coisa” fez Greyval cair sobre os próprios joelhos. Suportou; tinha de fazê-lo ainda mais agora, pois a imensa criatura estava, sim, tornando a mirar os chifres pontiagudos e grotescos em sua direção - queria vencer a batalha; o tauren também. Por reflexo, segurou-o; o solavanco foi o suficiente para fazer com que o anão fosse empurrado alguns centímetros por terra; suportou! Um dos braços fraquejava por conta do corte próximo à axila, mas ele se mantinha firme a fim de ganhar tempo. A saliva espumante da fera caia sobre o ruivo, mas aquilo não incomodava, o mero peso de sua cabeça faria com que os chifres lhe atravessassem a faceta.
O anão quase sorriu - aquele mesmo sorriso nervoso que teve em seu sonho perfeito. Encararia a morte daquele modo tão brutal e sem sentido? Estava pronto, fosse o resultado que fosse, mas a surpresa não tardou a chegar. O gemido profundo e gutural do tauren fez os olhos vermelhos da fera se arregalarem e o som do couro sendo trespassado encheu os ouvidos de Greyval como o grasnar de um corvo mensageiro de boas notícias. O corpo da criatura pesou sobre o seu e, com uma ajuda ainda misteriosa, rolou para o lado.
- Maldito sejas, Ardmor! Onde esteve? - as palavras do “pequeno” foram duras, dirigidas a seu “salvador”. Este, por sua vez, riu por entre o cavanhaque e estendeu a mão. Era um homem visivelmente maduro, temperado em inúmeras batalhas. Ostentava cabelos curtos e cavanhaque cerrado, ambos de um castanho claro, quase ruivo como o do anão. Estava usando parte de sua armadura de placas, já que também não teve muito tempo devido a urgência da situação.
- Deveria estar me agradecendo, velhote. - foi a resposta do homem, em tom de evidente brincadeira, pouco antes de começar a limpar a espada embebida com o sangue do tauren.
- A caravana? - Greyval se lembrou dos outros e temeu que houvesse mais destas feras atacando os arqueólogos.
- Havia mais um, que foi abatido pelos arqueiros de lá. Quando saí daqui, deixei Torben vigiando e vejo agora que foi uma péssima escolha. O garoto morreu? - a voz de Ardmor se tornava sombria ao perguntar, já que seus olhos fitavam o que restou do corpo do jovem aspirante a batedor. Enquanto que o outro, mais velho, começava a acordar do golpe que levou do perdedor.
- De certo, mas não se culpe por isso. Todos estão aqui por vontade própria e não espere um julgamento da Luz Sagrada pela tua atitude. - o próprio anão achava difícil falar daquela forma.
- Ainda não me acostumei com isso, velhote, mas estou tentando. - comentou o outro, que conheceu Greyval em tempos passados, muito antes dele se voltar à Luz e ser sagrado paladino em Altaforja.
- Cale-se, moleque. A aurora vem vindo, vamos enterrar os mortos e levantar acampamento. Se tudo der certo, hoje mesmo chegamos ao sítio que Darius procura. - Greyval pareceu ter pressa. Seria a primeira vez que precisaria direcionar um funeral.
- Mas, você não achou estranho? - Ardmor insistiu numa referência aos taurens ensandecidos bem ali naquele lugar. Greyval apenas fez um meneio, concordando e evidenciando que não desejava falar do assunto naquele momento.
Enquanto os mortos eram postos para descansar, o sol nasceu. A terra castigada dos Ermos foi iluminada e sua cor naturalmente rubra já feria os olhos de todos. Era hora de continuar pelas trilhas de terra batida na direção do sudeste, naquele conjunto de montanhas altas e vermelhas, assim como todo o cenário. Era um terreno perigoso, tomado por sectos de orcs que jamais abandonaram as práticas demoníacas e também pela própria Horda. Nada poderia explicar a atitude daqueles Taurens, até então pacíficos, mas Greyval jamais poderia imaginar que estava indo em direção de todas as respostas.
Muito, muito bom mesmo!
ResponderExcluirEspero que possas escrever logo a continuação, grande J Neves!
Uma parte do meu comentário não saiu... Quero saber quem está realmente por trás destes ataques e da manipulação dos Tauren.
ResponderExcluirObrigado pelo confere, Odin! A segunda parte já está pronta, em breve eu posto aqui. Mas lamento dizer que só vai levantar mais perguntas.
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