Capítulo Terceiro – A Marcha do Ódio
Skaven |
A caverna era quente e abafada, apesar de seu espaço amplo no salão central. O som oco de pequenos pedaços de ossos se batendo se fez presente próximo da única fonte de luz. Esta vinha do chão, em um tom esverdeado e fantasmagórico. Uma poça que rodopiava, com não mais que dois palmos de diâmetro, refletindo imagens que não pertenciam ao escuro salão. A forma humanóide diante do poço tinha um aspecto hediondo. Era extremamente alto, ultrapassando um tauren também na massa corporal. A “coisa” não era magra, mas obesa. A pele era azulada e os membros um tanto quanto desproporcionais. Sua cabeça, no entanto, estava coberta por um pano imundo, tal insuficiente para lhe ocultas as presas horrendas que surgiam da boca suja e fedida. Tratava-se de um troll, um repugnante bagateiro dado ao voodoo.
Skaven foi membro dos Lançanegra por longos anos e participou da retomada das Ilhas do Eco, das mãos do terrível Zalazane. Escondido, tomou conhecimento de experimentos profanos e passou a estudar por conta própria. Mais tarde, tornou-se fugitivo ao ser descoberto em seu ofício pragmático, avultando-se para longe daqueles que, de alguma forma, poderiam lhe causar algum mal. A solidão que o tornava uma Besta sem rumo cessou no instante em que se encontrou com outros corrompidos.
As pestes derrotadas lhe rendiam objetos interessantes; sendo que por vezes os moldavam. Um desses eram as ombreiras de crânio, tais que não chamavam mais a atenção do que a feição oculta daquela "coisa". Seus olhos fumegavam avermelhados de sandices e vontades. Ele tinha diante de si um Poço das Visões, por onde era capaz de enxergar outros lugares e outras pessoas. A mando de seu senhor, o troll mantinha uma vigília constante sobre um grupo de exploradores vindos de Ventobravo. Skaven não sabia dos objetivos daquele grupo, mas a figura decrépita do velho Darius lhe enchia de prazer. O corpulento imaginava que gosto a carne de um velho poderia ter. Qual prazer ele sentiria ao puxá-la por entre os dentes e sentir a pele murcha esticando até rasgar.
- Espero que tenha novidades, Skaven... – o som da voz alheia fora o suficiente para trazê-lo de volta; o suficiente para fazer com que o “monstro” se voltasse para o outrem. Carregando uma tocha, a figura iluminou o corpo daquele abaixado, observando a pele preenchida por tatuagens vermelhas.
Gorokar |
Erguendo-se no topo de seus mais de dois metros de altura, apesar das costas curvadas, Skaven sorriu de forma maliciosa, como era de seu costume. Nada disse, apenas repousou a mão imensa de três dedos no ombro largo do visitante e o fez observar o poço. Este se aproximou com calma e observou com satisfação a cena que se desenrolava, onde um anão adentrava uma escura caverna na companhia de um humano. Ele, o visitante, não fazia parte de nenhum destes povos. Aquele era Gorokar, um orc.
Da mesma forma que Skaven, Gorokar devia satisfações a seu povo. Tendo participado da Terceira Guerra, foi um dos orcs que fez parte do exército de Grom Grito Infernal e, dessa forma, bebeu da fonte com o sangue do demônio, participando da morte de Cenárius. Um exímio lutador, membro do clã das Lâminas Ardentes, Gorokar era temido entre os de sua classe. Sua pele avermelhada ainda denunciava a condição corrompida de seu sangue e como um viciado nos poderes que tal relação proporcionava, desenvolveu-se como um grande caçador de demônios na intenção de alimentar suas forças com o alvo de sua busca.
Gorokar sorria à maneira de exibir as presas sujas e desgastadas, passando a acarinhar a barba branca com a mão gorda e calejada. - É hora de agirmos. Os cães da Aliança encontrarão o local da pedra e certamente farão parte do nosso trabalho. Na melhor das hipóteses, tomaremos a jóia das mãos do velho. - Skaven sorriu novamente, imaginando-se a devorar o punho do ancião.
- ‘Cê sabe, orc... Eles não vão facilitar pra ninguém... Heh, heh... - A voz de Skaven irritava. Ela era sempre baixa, um pouco sibilada e não passava qualquer sinal de confiança. Além disso, quase sempre acompanhada de um riso fraco, debochado e intragável.
Não estou lhe pedindo para pegar em armas, troll. Fez bem tua parte e assim que eu tiver a pedra em minhas mãos, receberá tua recompensa. - a resposta ríspida do orc fez o outro soltar um riso seco. As duas figuras sombrias se separavam ali, quando Gorokar partiu para o local onde os outros membros de seu grupo estavam, e o troll voltou sua atenção à fonte.
Enxergava-se uma luz alaranjada ao longe, tal que provinha do interior de um salão. Além da luz temulenta, via-se, sim, um corpo que parecia dançar com o remexer das labaredas. Estava, aparentemente, sentado. Com olhos curiosos e um pouco nervosos, a criatura observou o orc assim que ele se aproximou. Sua cabeça, um pouco desproporcional para o resto do corpo, era coroada por um imenso par de orelhas. O nariz caricato contorceu-se em dúvida pouco antes dele perguntar.
- E-ele viu?! Viu algo, ele?! - os olhos avermelhados corriam de um lado para o outro, como se Gorokar tivesse sido acompanhado de uma horda de espíritos.
Mog, o Maníaco |
- Sim, partiremos amanhã. Trate de dormir, precisarei de sua ajuda, mais que a de qualquer outro. - Roto continua na vigília? - Indagou o goblin, quando percebeu a ausência do Renegado.
- É vantagem de ter... De ter um cadáver conosco! Hahahahahhahahah! - a gargalhada do inócuo fez Gorokar fechar um dos olhos, irritado. O goblin perdia o controle de si mesmo facilmente.
Do lado de fora, como uma estátua abandonada de um tempo já esquecido, estava Roto. Apoiado sobre seu cajado curvo, a figura decrépita pôde ouvir a gargalhada do goblin vinda lá de dentro da caverna. Diante de si a vastidão dos Ermos. Roto foi um Alto Elfo no passado e presenciou a destruição de Lua Prateada. Quando se libertou do vínculo que tinha com o Lich Rei, não aceitou juntar-se a Horda e fez seu próprio caminho, buscando por conhecimentos esquecidos. Depois de ter se voltado à bruxaria, tornou-se um aliado importantíssimo para o obcecado Gorokar. É um de seus mais antigos relacionados.
Roto |
Algumas almas altivas espalhadas por Azeroth tinham conhecimento daquele seleto grupo de seres bestiais e exilados. Para muitos eram conhecidos como a “Onda do Ódio”, ou a “Marcha do Ódio”, pois só destruíam os lugares pelos quais passavam. O líder do bando, Gorokar, tinha a fama de ser mortal com sua lâmina larga, tornando-se um verdadeiro turbilhão de aço no campo de batalha. Skaven, apesar de evitar o combate direto, era um bagateiro digno de medo, já que possuía o conhecimento das mais mortais mandingas de voodoo. Mog não tinha o epíteto de Maníaco à toa, era dado a ataques de fúria e apesar de seu tamanho diminuto, estava disposto a ir até as últimas consequências para conseguir o que desejava. Por fim, Roto era o braço direito de Gorokar, um bruxo habilidoso e capaz de conjurar as mais nefastas criaturas do Caos Exterior.
Esta era a Marcha do Ódio, e na manhã de um dia quente deram seu primeiro passo na direção de Greyval, Ardmor e do velho Darius. Que os deuses tenham piedade de todas estas almas.
Hahaha, muito bom! Eu estava ansiando há tempos pela continuação!
ResponderExcluirE que belo grupo reunistes...
Valeu, Odin. Tenho que concluir esta pequena saga. Acho que no próximo capítulo contarei a lenda do Coração.
ResponderExcluir